A travessia Alpha-Crucis (AC) consiste numa união de travessias em três serras do estado do Paraná, a Serra do Ibitiraquire, Serra da Farinha Seca e Serra do Marumbi. Ela foi concluída e concretizada pela primeira vez em 2012, por Jurandir Constantino e Élcio Douglas, contemplando 44 cumes em 10 dias, desde então não havia registros de alguém que tenha repetido, houve tentativas, porém infelizmente sem sucesso.
Veja mais detalhes sobre essa história nos links abaixo:
Alfa Crucis: Uma baita travessia
Travessia Alpha-Crucis (Relato)
Foi após concluir essas principais e algumas outras travessias nas serras paranaenses que eu Leandro Cechinel (Chapa) e meus amigos Cleverson Souza (Dingo) e Lucas Feltrin (Trepa) tomamos a decisão de nos dedicarmos a fazer esta travessia.
Nossa dedicação foi em vários quesitos, tais como, investimento em equipamentos e backup destes, preparo físico, estudo da logística e de toda a região a ser percorrida com antecedência, bem como a alimentação a ser adotada para os mais de dez dias de travessia.
Procurando não ter um gasto muito alto com comida e também pensando no peso, decidimos estocar comida em pontos estratégicos que chamamos de checkpoints, foram três no total, um para cada serra (A1, Marco 22 e Estação Marumbi). Focamos em uma refeição quente por dia no período da noite, utilizando comida pré-cozida (Vapza), macarrão, além de comidas militares e alguns liofilizados. Nos demais períodos do dia nos alimentávamos de barra de proteína, carbogel e alguns doces.
Um breve relato
O intuito deste relato é ser apenas um pequeno descritivo dos principais acontecimentos, trajeto percorrido, fotos e montanhas conquistadas em cada dia, sem vir a ser um guia ou conter informações muito detalhadas.
Dia 1 – Empolgação
Foi no sábado de manhã, dia 1 Julho de 2017, quando conversávamos com o seu Raul sobre deixar meu carro na Fazenda Rio das Pedras por pelo menos uns dez dias, ele ficou surpreso e querendo saber o motivo, depois de tudo explicado nos desejou boa sorte e fez um preço bacana pelo estacionamento.
E ali começamos a jornada que duraria mais de dez dias de caminhada, três serras e mais de cinquenta montanhas.
Partimos sentido Guaricana, o trecho inicial era novidade para todos, pois o reconhecimento desta montanha foi realizado por outro caminho, via Ferraria e Ferreiro. Chegamos no início da trilha rápido, largamos as cargueiras e partimos de ataque ao cume que terminou em 1h20, essa é uma montanha pouco visitada, no caderno cume que a primeira assinatura é de 2002, têm várias assinaturas dizendo que reabriram a trilha do Guaricana, pelo visto a trilha nunca pára aberta ali. Depois da primeira montanha conquistada de várias, fomos sentido Ferreiro, onde acampamos no cume.
Dia 2 – Frio
O dia já começou com emoção, com um vento sinistro que parecia que a barraca ia levantar voo, saí do saco de dormir que estava muito confortável e comecei a colocar a roupa que estava molhada por causa da vegetação do dia anterior, sem dúvida foi a pior parte do dia. Quando olhei para a barraca do Dingo e do Trepa vi que eu não estava sozinho, a barraca toda torta e dava pra ver a silhueta dos dois lá dentro segurando ela. O vento estava tão forte e frio que não conseguimos guardar as barracas no cume, tivemos que enrolar de qualquer jeito e levá-las para um lugar mais abrigado, mesmo assim foi difícil pois as mãos estavam travadas por causa do frio, e como nenhum de nós é muito adepto ao uso de luvas, eu mesmo nem sentia mais os dedos, acabamos nem registrando no caderno cume por causa do frio.
Com tudo pronto partimos sentido Ferraria, seguimos o trajeto feito semanas antes pensando justamente nesta travessia. Depois de uma subida árdua chegamos no cume, tiramos um descanso merecido partimos sentido Taipabuçu, tomamos um susto ao ver tanta gente no cume, onde conhecemos o Bruno e a Talita, ele perguntou “Estão indo pra onde?”, foi engraçado o sorriso deles e a empolgação quando respondemos “Conhece o Morro do Canal?” hahah. Naquele momento já estávamos cansados das subidas anteriores, mas a energia positiva que a galera nos passou foi uma baita injeção de ânimo, além da barra de chocolate que nos deram e também uma maçã que ganhamos de um cara descendo o cume, que maçã boa… Depois disso foi como se tivéssemos acabado de começar a caminhada, o ritmo melhorou muito e num instante chegamos no Caratuva, infelizmente estava cheio de lixo no cume, sacolas e sacolas. Assinamos o caderno cume como sempre, dividimos a barra de chocolate e já seguimos em direção ao A1 pela trilha da conquista, o primeiro checkpoint.
Ao chegarmos no A1 fomos direto na busca do checkpoint, comida! Foi aí que tomamos um choque, alguém encontrou o estoque antes que nós, roedores, por sorte não conseguiram chegar na comida e danificar nada além dos baldes, um dos baldes estava com a tampa toda roída, parecia que tinham usado um abridor de latas hahah.
Comemos muito bem e descansamos, porque o dia seguinte seria puxado, de ataque no conjunto Ibiteruçu.
Dia 3 – Visitantes inesperados
E o dia amanheceu nublado mais uma vez, muito frio e neblina, o mais difícil era sair do saco de dormir quente e colocar a roupa molhada do dia anterior, pois sabíamos que aquela roupa seca teria que continuar seca o trajeto todo.
Deixamos o acampamento da mesma forma, só trocamos de roupa, pegamos as mochilas de ataque e já partimos sentido Pico Paraná, chegamos no cume e nada de o tempo melhorar, começamos a descida para o Tupipiá, com o tempo seco essa trilha já é complicada, molhada então… Esse trajeto foi complicado, as mãos não respondiam direito mais por causa do frio. Mas com todo o cuidado, alguns escorregões e agarrados nas caratuvas, chegamos no cume.
O caderno e tampa haviam sido trocados recentemente, o da Capa do Inri Cristo sumiu junto com a tampa. Assinamos e voltamos para a mata que tem no cume para comer algo e descansar um pouco, foi aí que o Dingo nos lembrou que nesse mesmo lugar alguns meses atrás decidimos em conjunto que iríamos fazer a travessia Alpha-Crucis. Depois daquele dia começamos a nos preparar, foi legal relembrar aquele momento.
Descansados voltamos para o cume do Pico Paraná e fomos em direção ao União e Ibitirati, ataque que terminamos meio-dia, só faltava mais um, Camelos. Que trilha escorregadia, perdi a conta de quantos tombos levei, chegando no cume tivemos uma pequena alegria de ver os paredões do conjunto e parte do litoral, mas logo fechou tudo novamente. O mais importante foi que mantivemos o ânimo e ninguém se lamentava pelo tempo ruim, se divertindo e curtindo mesmo assim, mantendo a parceria.
Com a comida e água acabando, fome aumentando, voltamos para o acampamento, devido ao tempo ruim e vento muito forte, decidimos acampar ali mais uma noite, porque sabíamos que no Itapiroca estaria tudo alagado além de ser um cume mais exposto.
Já nas barracas, secos e depois de jantar, o Dingo deixou uma embalagem suja de comida fora da barraca e falou brincando: “Vou deixar uma oferenda aqui”. Chato como sou achei ruim, guardei todo o meu lixo e deixei dentro da barraca.
Em uma das vezes que acordei de madrugada escutei um barulho estranho do meu lado, era um rato que havia roído minha barraca, fez um buraco e enfiou a cabeça para pegar o lixo na sacola, que raiva que me deu, eu batia na barraca, tocava fazendo barulho “Shhhhh!!!”, mesmo assim ele voltava, enquanto isso eu ouvia os risos do Dingo e do Trepa na outra barraca, hahaha. No fim para poder dormir em paz tive que deixar uma das embalagens pra fora também, que amanheceu toda roída.
A situação dessa região está muito complicada, pela superlotação, fogueiras causando risco de incêndio, abertura de novas áreas de camping, quantidade de lixo abandonado e etc. Depois disso eu não via a hora de sair daquela região, acabei dormindo puto com o que aconteceu com a barraca, e preocupado com que se repetisse.
Dia 4 – Peso
Abrir a barraca pela manhã era como um jogo de loteria, sempre na esperança de ver um tempo limpo, sem neblina ou chuva, no fim acabou amanhecendo o quarto dia de tempo ruim. O que nos restava era colocar a roupa molhada e gelada do dia anterior mais uma vez, desarmar acampamento e continuar a caminhada, desta vez foi muito mais difícil, pois tínhamos acabado de carregar as mochilas com toda a comida para finalizar a primeira serra.
Seguimos com certa dificuldade até o cume do Itapiroca, até o corpo esquentar, acostumar com o peso e etc, descemos sentido Cerro Verde, no pouco tempo que o Trepa foi na frente já encontrou dois óculos na trilha, nunca via tamanha sorte para encontrar itens nas trilhas, incrível como isso sempre acontece.
Chegando no cume do Cerro Verde, os planos eram armar acampamento e fazer de ataque Taquapiroca, Tucum e Camapuã. Porém já estávamos cansados, começando a desanimar com tanto tempo ruim, sendo que escolhemos essa época do ano justamente contando com o bom tempo previsto. Ao meio-dia, em um momento de loucura e brincadeira falei: “Bora ficar na barraca hoje? Fazemos os ataques amanhã…”, todos toparam prontamente hahaha.
Dia 5 – Beijo da morte
De tempos em tempos até amanhecer eu abria a barraca para ver como estava o tempo, foi quando o dia clareou que tive uma das melhores sensações, consegui ver o conjunto Ibiteruçu pela primeira vez nessa travessia! Gritei para o Dingo e Trepa que estavam deitados na outra barraca avisando sobre o tempo e que o sol estava nascendo, logo resmungaram e ainda me xingaram hahahah. Mas depois que insisti e eles viram foi só alegria.
Como estávamos molhados desde o primeiro dia, nos demos o luxo de começar a caminhar mais tarde do que de costume e montamos nosso varal no Cerro Verde para tirar o cheiro de cachorro molhado e secar algumas coisas.
Deixamos o acampamento ali e partimos para os ataques, depois de abastecer de água no vale sentido Tucum, o Dingo ficou bem pra trás, aí descobrimos o motivo, veio ele todo preocupado com o sistema de hidratação na mão dizendo: “Deixei pra fora e o rato roeu o bico, o pior é que já coloquei a boca”, eu e o Trepa caímos na gargalhada, falamos que ele iria se transformar em rato, morrer antes de terminar a primeira serra e várias outras brincadeiras sadias hahaha, foi aí que o Trepa batizou o rato de “Godofredo”.
Fizemos os ataques ao Tucum e Camapuã, e na sequência fomos para o Taquapiroca, trilha que eu havia procurado e feito algumas semanas antes pensando em juntar nessa pernada. Como eu estava na frente, cheguei no cume alguns minutos antes, olhando de cima vi o Dingo balançando as mãos e falando: “Cobra! cobra! cobra!”, uma jararaca enrolada perto de algumas bromélias bem no meio da trilha, não vi ela e nem ela me viu para a minha sorte.
Voltamos para o Cerro Verde desarmar acampamento e continuar a caminhada do dia, com tempo bom e animados o dia rendeu muito, partimos sentido os “Ovos de Dinossauro” ou também conhecido como “Pedra do Coiote” e depois Pico do Luar por cima, deixei um novo caderno cume no Luar, pois havia acampado ali alguns dias atrás e notei que não havia mais. Descendo para o descampado notamos mais uma coisa triste, marca de fogueira, ainda mais naquele pico, essa galera está indo cada vez mais longe.
Ao chegar no pé do Ciririca abastecemos de água e começamos a discutir quanto tempo levaríamos para subir até o cume, fizemos nossas apostas e começamos, o Dingo já falou pra eu ir na frente e não ficar botando pressão nele haha. Chegamos no cume muito mais rápido que o esperado. Na mesma noite tivemos outra visita do rato Godofredo.
Dia 6 – Rio, rio e mais rio
Desarmamos acampamento após ver o nascer do sol com saco de dormir e bebendo um café e já começamos a descer o Ciririca. Logo chegamos na Colina Verde e bifurcações para os Agudos Lontra e Cotia que fizemos de ataque.
Ao começar a andar pelos afluentes e também o próprio Rio Forquilha o ritmo diminuiu bastante devido a cautela, é nesse trecho que o Trepa se transforma e fica puto com tudo, odeia andar pelo rio hahah. Depois de algumas horas de caminhada chegamos na Garganta 235, que fica entre o Tangará e Coxotós, no fim não consegui convencer a galera de fazer o Coxotós de ataque novamente e até mesmo o Tangará ficou para o dia seguinte, já estávamos bem cansados, foi melhor assim.
Dia 7 – Fim da primeira serra
Ao contrário do que eu esperava, tivemos uma noite sono muito boa nesse acampamento, fizemos um ataque ao Tangará, desarmamos acampamento e continuamos com a caminhada.
Logo chegamos no Dique de Diabásio, que lugar incrível, fica um pouco antes do Salto Mãe Catira onde paramos um bom tempo para contemplar. Depois deste ponto a caminhada segue por uma trilha que parece infinita até o Marco 22, na Estrada da Graciosa, um dos dois pequenos pontos de civilização que existem durante esta travessia, o outro é na região da Estação Marumbi.
Chegando na estrada da Graciosa, para a nossa alegria avistamos o quiosque aberto, eu já estava sentindo o gosto do pastel alguns quilômetros atrás, o mais engraçado era a reação das pessoas ao verem aqueles três malucos sujos, cansados e fedendo, pedindo tudo o que se tinha para comer, logo vinham puxar assunto e fazendo várias perguntas.
Cuidamos para não passar mal comendo demais e seguimos até a fazenda Garbers, onde no caminho estava o checkpoint com nossa comida para a próxima serra, uma das partes mais tensas foi essa, pensando no caso de a comida não estar conforme deixamos, já estávamos preparados para voltar no quiosque e comprar tudo o que era possível para passar os próximos dias, mas felizmente estava tudo certo e a felicidade tomou conta.
Com as mochilas carregadas chegamos no portão da fazenda, onde fomos recepcionados não muito bem pelos diversos cachorros do Marcelo, um deles até mordeu a perna do Trepa, por sorte não foi forte. Na sequência o Marcelo saiu e acalmou eles, ficamos um bom tempo conversando na sua varanda enquanto deixamos algumas roupas secando no sol e o celular de emergência carregando.
O papo estava bom mas tínhamos mais duas serras para percorrer, começamos a subir sentido Mãe Catira já perto do pôr do sol, mais uma vez sentimos na pele o custo das mochilas carregadas de comida, subimos até encontrar o lugar mais adequado para acampar e seguir com a caminhada no dia seguinte.
Dia 8 – De seca, só o nome
A minha intenção era de ver o nascer do sol no cume do Morro do Sete, porém com o tempo fechado e muita neblina voltei a dormir e fomos de ataque ao Mãe Catira e Sete um pouco mais tarde. Às 10h pegamos a bifurcação sentido Polegar, estávamos curiosos e um pouco confiantes sobre essa serra, pois havia recebido uma manutenção na trilha recentemente e pelo menos dois outros grupos haviam feito a travessia da Farinha Seca, realmente isso facilitou e rendeu muito mais a caminhada, sem tomar praticamente nenhum perdido e sem varar mato e taquaral no peito, diferente da primeira vez que fizemos a Farinha Seca.
Passamos pelo Polegar, Esporão do Vita, fizemos de ataque rapidamente o Tapapuí, Farinha Seca e acampamos no morro dos Macacos sob chuva, onde haviam marcas de acampamentos recentes.
Dia 9 – Só falta mais uma
Mais uma vez passando por essa serra com praticamente nenhuma vista, novamente o dia amanheceu molhado e com neblina, pela manhã abriu por poucos instantes, o suficiente para nos animar e saber que logo estaríamos nos pés do conjunto Marumbi, isso sim me animou.
Passamos então pelo Jurapê Açu, Jurapê Mirim e fomos de ataque ao Balança, onde existe um mirante que nunca vi nada de lá, hahah, mas um dia verei.
Após o Balança, descemos com todo o cuidado necessário, a descida é bem íngreme e perigosa, foi nessa região que infelizmente um montanhista acabou perdendo a vida durante a travessia da Farinha Seca. Saiba mais aqui.
Logo chegamos no Rio Ipiranga e São João que tivemos que atravessá-los, desta vez sem problemas, seguimos por uma trilha curta que terminaria no portão da Usina e que também é utilizada para acesso ao Salto do Rosário. Finalizamos a segunda serra próximo das 14h20 e corremos para o camping do Parque Estadual do Marumbi para aproveitar o tempo restante de sol, secar os equipamentos e recolher o terceiro e último checkpoint.
Depois de nove dias caminhando molhados, sem tomar banho e com pouco conforto, o banho quente no camping deve ter sido um dos melhores da vida.
Dia 10 – Marumbi, o paraíso
O dia amanheceu limpo, tempo perfeito e a alegria tomou conta, principalmente por ser nessa serra, tomamos um café e partimos de ataque ao Rochedinho, na volta desarmamos acampamento e começamos a subir o conjunto, passando pelos cumes do Abrolhos, Esfinge, Ponta do Tigre, Gigante, Olimpo e Boa vista, sem dúvida para mim este foi o melhor dia da travessia, onde o último cume do dia fez jus ao nome, o pôr do sol mais bonito da vida até então, não bastando logo depois com o nascer da lua cheia.
Neste momento já comecei a sentir que estava acabando a travessia, ali já estava batendo saudades, com esse sentimento de “quase acabado” batemos um papo sobre a vida e os próximos objetivos de cada um, até mesmo em outras atividades.
Dia 11 – Do fim ao início (AO)
Cuidando para não cair nas gretas escondidas do cume do Boa Vista, logo chegamos nas correntes, o começo de cada dia é sempre complicado, até aquecer, acostumar com o peso e etc, e pegar de cara uma parede com corrente e de quebra um greta no fundo não é muito legal.
Na sequência passamos pelo Leão e Ângelo, ao descer este último já comecei a procurar uma possível trilha de acesso ao Bandeirantes, mesmo sabendo que o Dingo e Trepa não topariam, a essa altura já estavam me xingando de ter colocado tantos picos de ataque a mais na travessia e as piadas começaram, dizendo que iam cortar minhas pernas, iam me dar uma “paulistinha” para parar de andar e por aí vai hahaha. Mas consegui convencê-los de deixar de fazer o Espinhento de ataque e fazer o Bandeirantes no lugar, que seria um pico novo para todos nós desta vez e aparentava ser mais fácil, e realmente valeu a pena.
Depois do ataque descemos pelas inúmeras gretas até entrar numa quiçaça que vai até os pés do Morro do Pelado, o qual do cume conseguimos ver o trajeto final para os próximos dias.
Foi estranho fazer a Alpha-Ômega ao contrário, e principalmente com tempo bom, enxergando a trilha claramente, sem tomar muitos perdidos, pelo visto está sendo bastante visitada recentemente.
Passamos entre o Espinhento e Chapéu, onde decidimos não subi-los, só de eu ameaçar a subir o Chapéu o Dingo já estava quase me batendo hahah. Seguimos rumo ao próximo ponto de acampamento, Alvorada 2, chegamos exaustos, jantamos perto das 17h.
Foi nesse pico e último dia de acampamento com um sentimento de missão cumprida que decidi tirar o celular do modo avião, ver as mensagens de quem sabia onde estávamos e que estavam torcendo por nós, além de avisar que terminaríamos a caminhada no dia seguinte.
Dia 12 – Reta final
Após ver o nascer do sol com um mar de nuvens gigante começamos a desarmar acampamento, foi aí que o Dingo encontrou uma aranha caranguejeira, me conhecendo já gritou para eu ir ver. Existem muitas desta espécie nesta região próxima do Morro do Canal, não é raro encontrar uma, mesmo não sendo venenosa, a picada é dolorida e caso ela se sinta ameaçada pode soltar cerdas vindo a irritar os olhos.
Com tudo pronto e mochila nas costas, partimos para a caminhada final, parecia que o corpo sabia que estava acabando, começou a diminuir o ritmo e o cansaço de todos os dias bateu nesse último.
Passamos pelo Alvorada 3, Alvorada 4 e Mesa, onde paramos para descansar e por um vacilo minha cargueira caiu em uma greta de mais ou menos uns sete metros, lá fui eu resgatá-la. Depois do Cume do Mesa passamos pelo “Acampamento Fantasma”, lugar que existe há muito tempo na serra, onde se tem uma lona azul e um varal com alguns itens pendurados, um par de botas, um boné, um par de luvas e uma mochila, havia uma camiseta que se deteriorou e um fogareiro antigo que pelo visto andaram levando. Até hoje esse lugar é um mistério. Na última vez que passamos por lá o varal estava destruído, desta vez vi que a gambiarra que fiz com a alça da mochila aguentou bem haha.
Após passar pelo cume do Morro do Carvalho e Ferradura, escondemos as mochilas e fomos para a Torre Amarela de ataque, com a cargueira já nas costas passamos pela Torre do Vigia e com certa dificuldade na última montanha, Morro do Canal. Neste momento o nosso amigo Beira (Fernando Monserrat) já estava a caminho da fazenda para nos resgatar, resgate mais que especial, por ele ter começado a subir montanhas junto conosco anos atrás.
Dia 13 – Não acabou
Depois de rever a família, tomar um banho quente, dormir numa cama confortável, comer até passar mal e essas coisas que no dia-a-dia acabamos não dando o devido valor, pedi para o Dingo me levar até a fazenda Rio das Pedras para resgatar o meu carro, ele me deixou lá e retornou, aproveitei para subir até o A1 recolher os recipientes do primeiro checkpoint, também para fazer uma limpeza na trilha e áreas de acampamento, limpar os indícios de fogueiras que pessoas fazem e etc.
Trajeto
Totalizando 115km, 12.853m de aclive e 12.681m de declive a travessia toda foi gravada com um GPS Garmin GPSMAP 64s, e um Garmin eTrex 20x como backup.
Montanhas
Totalizando 55 montanhas nas três serras, boa parte delas com o uso de mochilas de ataque por fugir do trajeto original.
Serra do Ibitiraquire (22): Guaricana, Ferreiro, Ferraria, Taipabuçu, Caratuva, Pico Paraná, Tupipiá, União, Ibitirati, Camelos, Itapiroca, Taquapiroca, Cerro Verde, Tucum, Camapuã, Pico do Luar, Siri, Ciririca, Colina Verde, Agudo Lontra, Agudo Cotia, Tangará.
Serra da Farinha Seca (12): Mãe Catira, Morro do Sete, Polegar, Casfrei, Esporão do Vita, Tapapuí, Farinha Seca, Morro dos Macacos, Mojuel, Jurapê Açu, Jurapê Mirim, Balança.
Serra do Marumbi (21): Rochedinho, Abrolhos, Esfinge, Ponta do Tigre, Gigante, Olimpo, Boa vista, Leão, Ângelo, Bandeirante, Pelado, Alvorada 2, Alvorada 3, Alvorada 4, Mesa, Sem nome, Carvalho, Ferradura, Torre amarela, Torre do Vigia, Morro do Canal.
Cara muitoooo massa
Meus parabéns pela conquista 😀
Eu e meus amigos estamos com planos para fazer o AC ano que vem e esse ano AO 😀
foi de muita valia esse relato e de muita utilidade para eu
muito obrigado por compartilhar as suas experiencias
espero um dia poder conversar pessoalmente com vocês a respeito de montanhas 😀
um grande abraço e mais uma vez parabéns pela conquista
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Muito obrigado cara!
Legal que curtiu e lhe foi útil
Boa sorte nas pernadas, só planejar bem e se dedicar que o resto acontece
Nos vemos na serra 🙂
Abraço!
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Prezado Arã Torres,
Sou do Rio de Janeiro, e também pensando em fazer essa travessia no próximo ano.
Se quiser, podemos trocar ideias sobre.
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Realmente vc gosta muito de escrever, eu não teria essa disposição, ótimo relato, sair do canal ao bairro alto pode se dizer q e alfha crusis. Última coisa como faz pra conseguir o trek.
Brincadeira, já tenho todos em partes.
Sorte.
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Muito obrigado meu caro! Isso que eu resumi bastante a história hehehe
Eu considero que é sim, porém invertida.
Boas pernadas, abraço!
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Parabéns pela travessia, gurizada! Pelo relato, ela continua fazendo jus ao título de mais difícil do Brasil. Como no montanhismo não há podium de chegada, fica aqui meus sinceros cumprimentos a vocês pela empreitada!
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Muito obrigado! Esses sinceros cumprimentos valem mais do que qualquer troféu ou medalha 😉
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PARABÉNS GURIZADA…SANGUE NOS OLHOS…ASSIM QUE É !!! TBM GOSTEI MUITO DO RELATO FICOU DA HORA…SE O HOMEM SE INSPIRA A DESAFIOS, COM CTZ ESSA TRAVESSIA FAZ JUS !!! ABRAÇO ☺😊😀
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Obrigado Fabiano! Legal que gostou cara, e com certeza, um desafio e tanto 😀
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Ah! Muito massa que incluíram mais cumes na travessa ☺
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Parabéns! Adorei o relato. Estou pensando em fazer essa travessia em Outubro. Vc não quer fazer novamente, procurando gente pra isso rsrsrsrs
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Aeee que bom que gostou Camila 😀
Pior que estou com outros planos pra esse ano, senão te acompanharia mesmo hehehe
Mas manda ver! E precisando de algo que eu possa ajudar, é só falar 😉
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Estou pensando em fazer essa travessia em 2019.
Sou do Rio de Janeiro, se quiser, podemos trocar ideias sobre.
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Li a postagem de vocês, muito legal e útil, vale a pena mesmo essa travessia, parabéns a vocês pela forca e coragem.
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Legal que curtiu Karin, muito obrigado mesmo! 😀
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Olá amigos, sou do Rio de Janeiro.
Pensando em fazer essa travessia no próximo ano.
Precisando de companhia.
Leandro, obrigado pelo relato. Muito bom, só faz aumentar a vontade de repetir essa travessia.
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Amigos vcs foram guerreiros! Me passam a trilha em gpx da travessia? Quero fazer tbm. rodrigucardoso@gmail.com
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